terça-feira, 30 de agosto de 2011

Aqueles dias



 

No carro ela dirige sozinha. A vida vai passando, as coisas vão passando, e os problemas que contornam a cabeça dela não deixam que tenha tempo de apreciar as pessoas na rua como fizera tantas vezes antes.
 

O som do carro em silêncio, demonstrava que nem mesmo a música podia salvar-lhe daquela angústia.
No meio de tanta confusão na cabeça, ela se perde pela segunda vez no percurso. Tenta racionalizar e não entrar em completo desespero, não achar que é a pessoa mais estúpida do mundo, não achar que está pirando. Mais pira.

Miúdas, as lágrimas vão saindo do seu rosto, invadindo óculos, invadindo a alma.   
Ela tenta não perder o controle do carro, pois todo o resto já tinha ido pro brejo.
Imagina que seria perfeito que a cabeça da gente tivesse um botão de desliga. Um piloto automático, um GPS de sentimentos que só levasse a gente pra onde a gente quisesse ir e nada mais.
Enquanto carros voam do seu lado, a história do GPS vai vagando na cabeça dela. Ela que já tinha perdido a cabeça na esquina passada.
Vai imaginando como seria mais fácil, se desse o braço a torcer e comprasse logo uma dessas coisas que te dizem de pronto o destino, que mostram para onde ir, que no primeiro erro já traçam uma nova rota, um novo percurso. Menos problema pra pensar, menos trabalho, menos roubada.

Talvez fosse bom ter um GPS pra ela, pra vida dela. Ela que andava tão fora de controle, tão fora de rumo. Alguém pra recalcular a rota, pra mostrar o caminho, pra mostrar aonde ir.
Parada no semáforo ela só volta a si após uma generosa buzinada do carro de trás. Colocou o braço pra fora, tentando demonstrar que sentia muito. Mas do outro carro não dava pra ver as sobrancelhas levantadas e o sorriso amarelo de quem perde perdão. Mais lágrimas derramadas, agora o drama se unia a situação.

Nessas horas, dava pra sentir até pena de si mesmo. Mas não achou que era cabível àquela hora da tarde, entrar numa dessas.
Rodou mais umas duas quadras até arranjar coragem de perguntar para uma senhora onde, diabos, ela estava. A resposta, que saiu tão doce da boca da velha, pareceu atravessar-lhe o coração como uma faca.
Estava do outro lado da cidade. Olhou em volta.
Nunca tinha visto nada nem parecido com aquele lugar.

Agradeceu e partiu, tentando lembrar-se das “duas à direita, uma a esquerda” que a velha havia indicado. Tá bom pensava, como se isso fosse me levar pra algum lugar.
Mesmo assim seguiu o caminho indicado. Havia uma praça.
Havia ainda sol suficiente para iluminar o lugar e deixar a grama e as árvores ainda mais verdes, crianças corriam por ali, babás, taxistas. Um lugar comum.
Havia também um punhado de flores multi coloridas plantadas no chão, um pequeno lago no meio de tudo, e todas as pessoas ali vivendo, alheias a ela, alheias ao mundo.
Resolveu parar.

Sentou-se sozinha num banco, secou as lágrimas. Observou aquele fim de dia lindo que se apresentava e chegou à conclusão que não precisava coisa nenhuma de um GPS, ela precisava mesmo de estar ali, com ela.

E ainda bem que aquela velha, sabia muito bem do que ela estava precisando. 



Duas à direita, uma a esquerda a velha disse, mas não deu tempo de ouvir ela dizer: “Salve a sua vida”. 



Luciana Landim
 



Ouvindo_Je Cherche Un Homme - Eartha Kitt

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Uma moeda e um cara.




Era aquilo ou nada, pensava eu.
O dia não passava e as noites eram curtas demais pra qualquer devaneio tolo.
Eu que já não raciocínava decentemente, ficava entre o dia e a noite, aguentando a morte calada do meu ser.
Foi então que pensei em mudar.
Procurar um lugar novo, conviver com outras pessoas, me embrenhar naquela cidade que me parecia tão grande e desconhecida.Talvez quem sabe cortar o cabelo, colocar um piercing.Mas nenhuma idéia adiantaria de qualquer forma.
A saída pra essas coisas, é mesmo enfrentá-las.

Me joguei na noite.
Em busca de bares vazios e homens sozinhos.
Topei com um cara, sentado num balcão tomando um whisk barato.
Era tudo tão clichê que pensei em me jogar na frente de um carro, assim que saísse dali, mas enquanto eu divagava sobre as possibilidades de morte, ele disse:
"- Ei, tudo bem?"

A voz dele era suficientemente rouca pra me tirar do sério. 
Respondi friamente:

"- Tudo"

Minha cara de poucos amigos não devia alimentar mais nenhum assunto, pensei frívola, enquanto solicitava ao garçom uma cerveja gelada. Mas ele seguiu:

" Tem dias que a gente levanta da cama com uma vontade de sumir.."

Eu respondi em tom de brincadeira:

"Ou com vontade de sumir com alguém"

Ele respondeu sorrindo:

" É.."

Eu, sem perceber soltei a pérola:

" Pior é acordar sem ninguém na cama"

Ele em silêncio, fez que sim com a cabeça e nada disse.
Eu fiquei exatos três segundos, me torturando e confabulando coisas pra consertar aquela besteira, mas ele finalmente falou:

" Bom, por outro lado isso acaba com o problema de ter que sumir com alguém, não é mesmo?"

Fiquei aliviada por não ter que consertar a cagada, mas achei que aquele papo embora intrigante estava muito vazio,quando fui me despedir ele disse:

"Espera, tem uma coisa que eu quero te dar.."

Eu exitei um pouco, mas ele pegou minha mão, e entregou um colar com uma espécie de moeda furada.

Eu ironizei

" Numa noite dessas, você ainda me entrega uma moeda furada?"

Ele me olhando sério, disse apenas que era pra eu usá-la quando estivesse mal ou chateada.Pensei:

" Com tanta coisa acontecendo, porque não usar uma moeda furada no pescoço"

Agradeci e sai de mansinho em busca de um lugar mais animado, e caras menos misteriosos.
Caminhei lentamente em direção a rua, acendendo o último cigarro da carteira.
Quando estava no final da rua, senti uma mão agarrar meu braço e me puxar.
Era o cara do bar, de novo.

Não tive tempo sequer de perguntá-lo.
Quando olhei sua boca já estava na direção da minha.

Uma sensação estranha circundava meu pescoço.
Era como se estivesse tomando uma dose cavalar de energia instantânea.
O beijo dele ia atravessando meu corpo, provando arrepios.
E por mais que estivesse num momento mágico, senti uma vontade gritante de dar risada.
Enterrompi o beijo e entre risadas, perguntei:

"O que foi isso?"


Ele chegou perto do meu rosto, deixando suavemente sua barba roçar na minha bochecha e disse:

" Mistérios são para idiotas"

Me beijou uma segunda vez, agora com a mão esparramada nas minhas costas me apertando contra ele e saiu.

Aquilo parecia um sonho, um daqueles sonhos bons que acabam rápido.
Resolvi continuar meu caminho, brincando, sem perceber, com a moeda furada por entre os dedos.




Os dias passaram, e aquilo não lhe saia da cabeça.
O beijo, o cara, o que ele tinha dito.
Se mistérios são para idiotas, porque ele mesmo fazia tanto mistério.
Será que ele era um grandissíssimo espécime do Home Erectus Idiotis?


Continua...






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sábado, 20 de agosto de 2011

Tentativa de me tornar uma aluna




Carta (leia-se e-mail) enviada a Instituição UNINOVE sobre a tentativa de efetuar a minha matrícula...



Bom dia,

Me chamo Luciana, e tenho 25 anos.
Me mudei para São Paulo a cinco anos atrás, vindo atrás do sonho de morar na grande metrópole, na máquina que move o país.
Deixei em Uberlândia (MG), meus pais com o coração na mão, um irmão, minha então faculdade de Comunicação Social, meu carro, meus amigos, para vir até aqui tentar a sorte, arriscar a vida.
Desde então não consegui voltar a estudar.

E antes que vocês parem de ler esse e-mail, é preciso dizer que não, eu não quero estudar de graça.

Simplesmente decidi que era hora de voltar a faculdade, afinal minha idade ainda me permite alguns privilégios desse tipo, e resolvi escolher uma instituição séria e conceituada onde pudesse me desenvolver como Jornalista.
Fiz o vestibular agora, em 10 de agosto depois de muito procurar nas tantas faculdades que existem aí fora, entendendo que a UNINOVE era a melhor escolha.
Falei com amigos, pessoas que estudam lá..enfim, procurei me informar ao máximo sobre a instituição, iludida que, no momento que eu desce o primeiro passo as coisas iriam se ajeitar.

Qual não foi a minha surpresa ao solicitar em minha cidade natal, o meu histórico escolar do ensino médio.
Sabem como é a vida no interior, não é mesmo?
Eles não andam às pressas como nós, fazem tudo com prazos longos e com uma paciência quase budista.

Logo, minha documentação não estaria completa para fazer a matrícula a tempo.
Resolvi entrar em contato com a UNINOVE a fim de pelo menos, explicar o problema e ouvir uma solução viável, plausível.

Minha primeira tentativa foi pelo chat.
O NÃO veio tão depressa, que nem tive tempo de digitar o “Obrigada”.
Fiquei engasgada com a atendente me dizendo claramente, mesmo depois de explicar minha situação, que não havia nada a ser feito.

Era assim, ou nada.
Com histórico uma aluna, sem histórico uma “Zé Ninguém”.

Mas dizem por aí, que brasileiro, não desiste nunca.
E eu que sou uma das adeptas dessa infame sentença, resolvi ligar, pois quem sabe ouvindo minha voz de súplica, alguém me desse um norte, um destino.
Tão rápido quanto o do chat, o NÃO veio rasante, rasteiro.. Derrubando mais uma vez as minhas expectativas de conseguir me matricular em uma faculdade.

E veja, uma estudante como tantas outras, querendo apenas o direito de poder se matricular em um curso, parece simples não?
A primeira mensalidade já em mãos. O valor da matrícula, contado na carteira aguardando o momento de entregá-lo a boa alma que iria me atender sorridente, como que me prestigiando por um ato de bravura tão grande como esse, de voltar a estudar.

Não, foi sempre a resposta.
A resposta clara seca e sem rodeios de todos que me atenderam até agora.
Pelo que sei, as matrículas se encerram hoje.
E por isso destilei aqui nessas linhas, meu desespero, meu inconformismo.
Quem sabe se essas linhas serão lidas?
Quem sabe se sequer chegarão as mãos de alguém com decência suficiente para entrar em contato comigo e tentar de maneira humana, dar uma resposta melhor que “Não, não é possível”.

O meu histórico de conclusão do ensino médio, existe! Isso posso afirmar.
Afinal, modéstia a parte, alguém sem ensino médio não conseguiria escrever tantas linhas como as que acabei de escrever.
Mas, ele ainda está em Minas, navegando por entre mãos alheias, pães de queijo e cafezinhos.

Espero que entendam por fim, que esta não é uma carta pedindo um favor.
É pedindo simplesmente que seja atendido um ser humano que anseia pelo conhecimento, por voltar a estudar.



Ouvindo_Gilberto Gil _ Andar com Fé

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Busca



Busca eterna por ser
por sentir
por viver

Busca incessante
torturante, cortante
tanto mais
tanto querer

busca que começa no
detalhe pequeno
pelo..
termina no pé grão

busca, busca
busca..
encontra e não vê

a eterna procura do ser

Ouvindo_Chico Buarque_Querido Diário