quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Um bom ano



Um bom ano que termina, se recomeça pelo lembrar.
Talvez um bom ano, esteja apenas por começar.
Ou seja apenas a lembrança ou esperança de um outro lugar.

Um bom ano pra você que não fez nada de novo, mas que se moveu em qualquer direção.
Um bom ano pra quem só apertou a mão.
Pra quem não viveu, um bom ano morreu.

Um bom ano é aquele em que se tem algo de bom pra contar?
Ou aquele em que apesar de tudo, ainda há o que se comemorar?

Um bom ano pra nascer
um bom ano pra mudar
um bom ano pra reaprender
um bom ano pra viajar

se este ou aquele ano te trouxer saudade
vontade
se este ou aquele ano quiser te deixar passar

esteja onde estiver
comemore como comemorar

um bom ano, um bom ano
é o desejo em primeiro lugar

depois do depois,
não há nada a não ser esperar
um bom ano queira eu
um bom ano você

um bom ano a quem precisar.

Que seja um ano pra valer
que seja o melhor que puder chegar.


Ouvindo_Blowin' In The Wind_Bob Dylan

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Proseado


A esta altura eu já deveria saber,
já deveria segurar mais a onda,
deveria não dizer

A esta altura eu já deveria
saber mais
calar minhas vozes vorazes
ser mais zen
fazer menos mimimi

Mas minha inconstância
permanece
Por vezes acho que ela
engrandece

e teimo toda vez em
me redescobrir

Não acho que tudo seja um encanto
não acho que seja só pranto
mas sempre que vejo algo
de mim

me cubro de meio verdades
justifico as tantas insanidades
numa prosa sem fim

a esta altura eu já deveria saber
que talvez, saber mesmo
eu só saberei
quando estiver
muito mesmo

longe, daqui.


Ouvindo_Supõe_Chico Buarque

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Quando sozinho não era social


Como é mesmo que chama aquele negócio
onde uma pessoa fala e a outra escuta?

Mas tem um nome específico
não é um simples papear, porque tem que ser ao vivo
pode até ser em mesa de bar

pode ser no trabalho, no escritório
há quem diga que já fez em pleno lar

como é mesmo que se chamava, meu amigo
aquilo da gente conversar?

Como era mesmo que a gente fazia,
sem olhar no celular
pra matar a conversa vazia
pra ter sobre o que falar?

Como era?
Como era antes da gente emudecer
antes de desviar o olhar

Como era antes d'eu crescer
antes de me comunicar?

Se eu me lembro bem, bastava
dizer: "Olá".


Ouvindo_Waiting in Vain_Bob Marley

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

De repente



de repetente me deu aquela vontade de escrever ...
palavrear o impalavreavel ...

Inventar uma rima,
fazer minha letra descer em tinta
enquanto borro minha mão sem querer

quem sabe emudecer uma recalcada,
tocar uma desalmada
fazer alguém ler

me deu vontade de escrever pra você,
te dizer que sinto saudades
e que sem você não sei viver

deu vontade de escrever umas coisas
umas declarações
coisas soltas
meia dúzia de indiretas bafônicas
coisas que ninguém vai entender

me deu vontade, de me declarar pra valer
fazer alguém ceder,
inventar um programa banal

deu aquela vontade insaciável,
de comer guloseimas,
e de não dosar o que não é dosável..

tudo isso enquanto minha mão pousava a caneta
sobre o papel,
me deu essa vontade, essa vontade
uma vontade louca
de viver.

Ouvindo_ Manhattan_Kings of Leon

Ouve aí!


sexta-feira, 4 de outubro de 2013

me vejo



Eu me vejo mudando em pedaços, repartida de mim e das coisas que sou, fui e serei.
Eu mudo e me reencontro refeita, bendita, estruturada.

Eu mudo e minha rima padece, envelhece,
pra depois sucumbir de novo.
E outra vez me mudar.

Eu pinto o cabelo, e o comodo da sala de estar, eu pinto a cara
e nela estampo a saudade de outro lugar.

Eu finalmente me vejo, mulher,
não mais menina, embora criança
eu me vejo criança
embora permaneça o gosto
do riso, ficou o respeito do pranto.

Me enxergo maldita,
e algumas vezes bonita,
com olhar assertivo, e um tanto
escondido, na maquiagem que eu aprendi a usar.

Me vejo, no olhar do outro,
e na cara lavada de ontem de manhã,
me vejo nos cafés a tarde,
me vejo em plena metade,
daquilo que sempre sonhei.

Não existem mais culpas
e pecados,
não existe aquele bocado
de coisa que eu não falei.

Existe eu e me vejo,
me enxergo
como jamais enxerguei.


Ouvindo _Revelry_Kings of Leon

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

do que não sei [poemas]





Vamos nos entrelaçar, nos unir,
nos desmontar
vamos, vamos comigo
vamos se acabar
se fundir

Vem, se desmancha
infinito, comigo
bonito

Destrói lares,
acalma tormentas,
entorpece corpos,
emudece espaços
me embriaga

Me lembra,
se esquece
te pede
outra
hora pra
você ficar

Vem, é agora
não se deixe
enganar

do amor que doeu
e que ficou
agora só nos resta rezar.



Ouvindo_Chico Buarque_ Futuros Amantes

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

de vez em quando..



Dê tempos em tempos me apaixono.
Caio de amores por alguém ou algo que me toca, que mexe comigo.
Pode ser um livro, uma personalidade, um objeto, um ser humano qualquer que entra na minha vida.

Essa paixonite repentina, pode me fazer suspirar, me fazer imaginar, me encantar de amores, até que uma nova apareça, ou até que algo realmente impressionante no cotidiano me retome a atenção.
Obviamente são alucinações não confessadas, e aqui as confesso por não achar que agora isso vá fazer mal a alguém.

Mas me declaro a elas, porque sinto vontade do encantamento das primeiras emoções.
Da descoberta do que existe do outro lado, do lado de lá onde eu não existo. Uma versão minha imaginária, que vive outras histórias, e que tem morada em outros países, tem outros problemas.
Pode até ser algo com a teoria das cordas, mas que eu não conseguiria explicar.

Embora essas devaneios bobos sempre venham passear na minha mente, e eu fantasie com eles, e os deixe ficar por um tempo brincando comigo, a realidade é sempre a das escolhas feitas.
A versão da minha história que escolhi viver.

E que também me surpreende tantas outras vezes, me fazendo reapaixonar pelas coisas despercebidas.
Posso me (re) apaixonar por reciclar coisas velhas, ou voltar a escrever, por exemplo.
Mas me pergunto quantos de nós estão aí
a devanear por demais sobre a sua própria realidade. Com medo danado das fantasias saírem dos âmagos da imaginação, e se tornem doces realidades.

Pode ser que várias idéias tolas, sejam mesmo tolas e devam ficar lá, nas questões inconfessáveis.
Mas existem aquelas que devemos pegar pelas mãos e levar pra dar um volta.
Este texto mesmo, é um devaneio que saiu pra passear..

E agora aqui se solta, de tudo que existe de imaginário.
Pra tornar-se real..e mesmo assim belo.


Ouvindo_Ventura Highway_Emmerson Nogueira


segunda-feira, 1 de julho de 2013

O silêncio dos complacentes

Eis que volto aqui, para expressar minha opinião sobre o que se vê no Brasil agora.
Gostaria de poder dizer que estamos todos certos, unidos e juntos por um mesmo objetivo, mas a multiplicidade de causas estranhamente tece vozes ensurdecedoras e perturbadoras.


Mas vá lá. Antes precisamos dizer que de fato, por algum motivo, estamos nas ruas. As mesmas ruas que guiaram reformas, mudanças, queda de sistemas. Estamos lá, e saímos das redes sociais com um objetivo, sermos ouvidos.

Mas ouvidos por quem?
Por quem nos quiser ouvir, oras!

Não há mais tantas respostas prontas, que nos possam passar a ponto de bala. Não há mais organizações estudantis, somente, e seus líderes cabeludos com camisas de Guevara. Não, companheiro!
Somos anônimos!
Somos  dispersos, somos perdidos, somos desinformados!

Sim, porque a anos, as pautas se acumulam atrás de promessas não cumpridas e decepções e mais decepções com nosso sistema político.
Não sabemos o que queremos, porque de fato, não nos foi ensinado a pensar.
Mas, mesmo diante da lenga lenga que vemos através de recortes de jornais e uma mídia quase tão partidária quanto polida, sobrou uma fresta e enxergamos o que batia na cara da gente todo esse tempo.

Mas o que é que enxergamos, camarada?
Nós mesmos!
Vimos o que somos e em que tipo de brasileiros estamos nos tornando. Vimos as ruas cheias de gente, com cartazes de todo efeito, porque já não acreditamos que podemos ter vozes junto ao nossos representantes políticos. Aliás, a minha geração, já nasceu sem acreditar nisso!

Lembro muito bem, quando em meados do meu quinto ano do ensino médio, uma professora de História conseguiu me tirar da zona de conforto e me mostrar o que mais havia no mundo. Perplexa, engatei em leituras que até hoje não sei se consegui processar, mas que de fato, me fizeram questionar as pessoas, as coisas, as obviedades nada obvias de uma sociedade hipócrita e cheia de melindres sociais.

Naquele tempo, eu então com quinze anos, fui tolida por familiares dizendo que o sistema era esse mesmo e que não podia mudar, porque um tal de povo era "burro" e não iria fazer diferente!

Daí então, eu na santa ignorância dos meus agora 27, me vejo aqui envolta em discussões políticas, em manifestações, em protestos, em vandalizações, em tudo isso que se vê.
Mas então, nós, os descentralizados, burros, ignorantes, sem foco, nos tornamos "um gigante que acordou", um povo que vai as ruas para escrever a sua história. Parece até um conto de fadas!

E acredito que isso seja positivo, em partes!
Pois  acredito mais na informação!
Assumo que quando me deparei com algumas questões importantes sobre o sistema político brasileiro e sobre como ele funciona, me senti uma completa ignorante. Pois não sabia de nada, não entendia nada.
As informações vão chegando e eu procuro ler e buscar mais para entender melhor do que se trata cada pauta. Porque elas são várias, e tem MUITA IMPORTÂNCIA!

As PEC's, o fato de um sujeito extremista religioso estar presidindo a Comissão de Direitos Humanos, apoiando uma tal de cura gay (um completo absurdo), corrupção como crime hediondo, os problemas da saúde, da educação, a copa, o dinheiro público, isso e mais aquilo..

Google pra que te quero!

Mas o que me desperta extrema curiosidade mesmo é esse silêncio.
Um silêncio escondido em postagens comedidas, que parecem ignorar que algo está acontecendo.
O silêncio dos complacentes me intriga, me instiga!

Será porque eles estão céticos?
Será porque eles tem medo de perder o que não tem?
Será que é porque se acham tão certos e tem medo de que na primeira troca de idéias, suas convicções vão parar todas no ralo?

Porque calam?
Se estamos todos aí a gritar desvairados, a pedir por melhorias, a enfrentar o que já basta, porque é que se calam todos estes?

Asseguro que temo mais os que ficam sentados em seus sofás, dos que os "reaça" que estão nas ruas gritando barbáries.
Não defendo o extremismo, nem os atos de vandalismo, mas o maior vandalismo que podemos fazer neste momento é virar as costas para o agora, para este momento, para esta oportunidade. Cabe a nós todos avaliarmos também em nós mesmos as pautas que abraçamos e de quem realmente estamos nos defendendo.



Ouvindo_Angus and Julia Stone_Stranger

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Amo o que faço? Ou faço o que faço para amar o que tenho?




Será que estamos todos fadados a nos encontrar em algo? Ou existem pessoas que nunca vão fazer aquilo que amam? Será que estamos sujeitos apenas as circunstâncias e ao destino? Ou que nossas escolhas definem exatamente o que somos e ponto final.
Tenho tentado entender esse lance de viver versus trabalhar. E me parece tão distante o momento onde iremos encontrar um equilíbrio entre as duas coisas. 

Mas sei que meu romantismo é grande sobre isso também. Talvez eu esteja apenas vagando estre águas desconhecidas e com muita incerteza do futuro. O que me leva a acreditar que a busca pelo equilíbrio esteja no entendimento e na aceitação de que tudo é passageiro e incerto.
Não podemos ter certeza de tudo. Nem mesmo na gente, que mal se conhece, ou no nosso relacionamento, ou mesmo nos nossos familiares.
Mas será também que não é exatamente isso, de ser incerto, que esperamos atônitos?
Será que não é aquela surpresa, aquele susto, aquilo que nos é diferente que nos faz sentir vivos e sair nem que seja por um instante da bolha que construímos ao nosso redor, pra olhar para o mundo e para o outro de forma diversa?
Infelizmente, quando o assunto é trabalho, incertezas, surpresas e sustos são sempre considerados péssimos sinais. Pelo menos a principio. 
Esta todo mundo tentando achar um emprego certo, que provenha segurança, a certeza de um pagamento no final do mês, um convênio médico, uma assistência odontológica. 

E aí, minha pergunta. Isso também me assegurará da certeza da alegria e da plenitude de trabalhar?
Estaria eu, certa de minha felicidade garantindo apenas a minha segurança financeira?
Ou ainda, eu ficaria feliz indo trabalhar todo dia, sem ganhar aquilo que me parece o necessário, só por ter encontrado o que amo fazer?

Não sei se vou e se posso encontrar a resposta para essa e para tantas perguntas que eu tenho sobre a minha carreira e sobre a forma que isso vai ou não me dar o necessário para ter uma boa vida. 
Mas acho que vale a pena refletir sobre o assunto. 

Não consigo me imaginar feliz em um trabalho que não ame. E da última vez que tentei isso, foi extremamente doloroso e nem um pouco saudável.
Porém defendo que a busca, seja incerta e incansável.Que encontremos em nós as razões para fazermos o que amamos e que isso, nos sustente e nos baste.


Ouvindo_Killing Lies_The Strokes


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

A cartomante





Desatinada pra saber o futuro, e desacreditada da sorte, foi ela em busca de alguém que lhe contasse o destino.
Indicação de uma amiga de uma amiga disse que essa era porreta,  lá foi ela em busca de uma verdade pra chamar de sua.
A casa simples onde ela entrou, não parecia promissora o suficiente para alguém que prevê futuros brilhantes. Será que a cartomante já tinha previsto que seu futuro seria fadado aquela simples casa caindo aos pedaços?

Resolveu guardar o preconceito na bolsa, junto com o papel onde estava anotado o endereço, e lembrou-se de ser o mais vaga possível em suas colocações. Afinal, a gente sempre quer testar o quão vidente uma pessoa pode ser.

Sentou-se em frente a mulher, que obviamente tinha um olhar lunático e perdido, e um cigarro fedido em suas mãos. Não era, mas poderia ser a cena de qualquer filme ou novela, ou até mesmo um conto do Nelson Rodrigues.

Quando a cartomante olhou para ela pela primeira vez disse:

_ O que voce veio buscar aqui?

Ela engoliu seco, e pensando o que diabos estava fazendo ali, respondeu:

_ Eu não sei.

Foi então que ela achou que a cartomante ia mandá-la embora. Mas não. Ela voltou o seu olhar languido para o teto e pediu:

_ Corte o baralho.


E assim ela fez. As cartas foram virando na mesa.
A cartomante friamente ia fazendo caras e bocas, como se não soubesse muito bem o que estava fazendo. E ela tremia a cada suspiro da outra, achando que o pior ainda estava por vir.

A cartomante então disse:

- Vejo filhos em seu futuro..

Após uma longa pausa, ela reuniu coragem e perguntou:

- E o que mais?


A cartomante respondeu seca:

- Mais nada!


A vontade dela foi de levantar e jogar todo aquele baralho velho no chão.
Chutar a mesa, bater na cartomante, gritar a plenos pulmões..
Mas a única coisa que conseguiu fazer foi concordar com a cabeça docilmente..

A cartomante riu com o canto da boca e disse em tom suave, como se tivesse virado outra pessoa:

_ Na verdade minha filha, eu vejo a mesma coisa todos os dias.
Mulheres e homens que querem saber subitamente de seu destino. Querendo que eu revele mais do que eles precisam saber.
E ao longo do tempo, percebi que só trago mais incerteza e indecisão para a cabeça dessas criaturas.
Se digo algo bom, subitamente eles perguntam se algo ruim vai acontecer.
Se digo algo ruim, eles negam..e dizem que eu não sei do que estou falando.Então, decidi que agora só revelo o que acho que tenho que revelar.
Voce terá filhos..ponto.
Não sei quando, nem sei se voce já tem, nem se quer ter..
Não me interessa..
Se voce não quiser pagar, isso não seria a primeira vez nem será a última.
Mas se eu puder te dar o conselho, aqui vai ele: Deixa o futuro pra mais tarde.

Voce não será mais ou menos feliz se souber disso agora.


E foi então que ela se sentiu segura, pela primeira vez desde que havia entrado naquela casa. Começou a reparar e viu fotos de pessoas pela casa, viu que apesar do cigarro, a mulher mantinha um semblante sereno.
O olhar perdido na verdade mirava um quadro com algumas pessoas, e ela então entendeu.

Entendeu que o futuro era feito de escolhas, e que as escolhas estão no agora, e também no passado. Entendeu que ela tinha se tornado aquilo que podia e que deveria e que nem um fato estrondoso podia mudar o que ela já tinha vivido.
Era o futuro..tenebroso como ele só, a esperar.

Agradeceu pela consulta e pagou. Pagou pelo insight, pela conversa e pelo aprendizado.


Pensou em ter filhos, em não te-los, em marcar uma hora com o ginecologista. Mas aí, tomou um café na padaria da esquina e deixou que a sua versão do futuro cuidasse desse tratado.


Ouvindo_Linha do Equador_Caetano Veloso

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Tempo



Não é fácil aprender que pra tudo nessa vida, existe um tempo certo. Para alguns, mais pacientes, e confesso que cada vez em menor número, é um aprendizado gostoso e que demore o que demorar, é sempre suficiente.

Mas pra mim, e para a maioria das pessoas que conheço, o tempo  embora necessário demora muito para que chegue. Há pressa mesmo em tudo que queremos e fazemos, e há necessidades a serem vividas, experimentadas, sentidas..e mesmo assim, nessa nossa correria de querer tudo e, mesmo quando tudo insiste em acelerar o tempo comanda o destino, dando cadência ao que tanto ansiamos.

Mudar de cidade, de trabalho, de vida tem que ser pra ontem, tem que ser já..é o que pensamos nós, os ansiosos. Quando na verdade as coisas precisam desse processo lento de mutação para que se assentem, para que se ajeitem.

Fiquei um tempo sem escrever pois precisava mesmo acertar os ponteiros do meu relógio pessoal, e parar de dar diagnósticos de hora em hora sobre minha situação corrente. É preciso espera.
Não espera que estagna, congela. Mas a espera de deixar que as coisas sigam seu contorno, sigam seu fluxo diário.

Nos últimos dias, tenho refletido sobre essa vontade imensa de que tudo sei lá, aconteça de fato. Mas a verdade é que enquanto eu escrevo, tudo já acontece, distante..muito distante do meu controle. E é exatamente aí, que quero permanecer.
Literalmente deixando a vida fazer o seu papel, deixando que as coisas aconteçam a contento.

Mania nossa, aliás, minha, de querer controlar o incontrolável. Estou aprendendo a me perder do tempo, da hora, daquilo que gostaria de ser, do que eu não consigo imaginar.
O tempo é sábio..uma hora, a minha hora há de chegar!



Ouvindo_The Lumineers_Ho Hey


terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Eu, me amo?



Amar, amar mesmo, a gente aprende amando a si mesmo, certo?
Aquele amor próprio, protetor, amigo, compreensivo. Só a gente sabe ter, não é mesmo?

Desconfio que não.
Sei lá se me amo tanto assim.
Me vejo a todo momento alimentando uma culpa imensa do que sou e do que eu não sou. A todo momento me julgando e me criticando. Pior ainda, nunca me perdoando pelo que já foi.
Amor? Não sei..
Acho que estou mais pra uma paixão comigo mesma, só querendo ver o lado positivo dessa história minha para comigo. Um relacionamento velado e sigiloso com aquilo que eu acho é meu lado bom.
E os meus outros lados, escondidos, imperdoáveis, ficam a mercê da terapia, que me ajudam a ver quem eu realmente sou.

Preciso aprender a me amar plenamente. Aceitar meus defeitos, com compaixão. Entender que a gente pra amar ao próximo como a si mesmo, primeiro precisa se amar de fato. Não um amor fiel depositário das alegrias e cobrador de agruras. Um amor caridoso, compreensivo.

Vejo que sempre tinha a ideia de que me amava, mas na verdade, era algoz de mim mesma. Sabatinando minhas dores, achava que purificava minha alma. Quando, pelo contrário nutria os piores sentimentos sobre mim. E isso se refletia em tudo, mesmo que nas questões mais imperceptíveis.
Maltratava meu corpo e meu cabelo por não achá-los condizentes com uma verdade que sequer se aplicava a mim. Maltratava minhas idéias, para que elas coubessem dentro de um padrão aceitável sabe se lá por quem. Maltratava minha personalidade, negando meus verdadeiros instintos, sem poder entendê-los por medo simplesmente de não ser aceita, já que nem eu mesma me aceitava.

E de tanto negar meu self interior, deixei que alguns acreditassem na máscara que vesti por tanto tempo.
Quando ela deixou de ser útil, tratei de arrumar outra, pra enganar minha fiel perseguidora e quase sempre deixar que o meu todo ficasse despercebido.

E quanto desamor..e quanta mágoa..
Tudo isso para enganar o ego e fugir da dor.

Fingindo amar, me sabotava.
Quando pude me ver, comecei a entender que a beleza está em saber-me assim, completa de defeitos e qualidades que fazem desta escritora, a melhor pessoa do mundo...para mim.



Ouvindo_Violin Sonata K.378_Mozart

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Clichê, clichê

É tanta coisa que acontece, que eu já nem sei mais sobre o que escrever.
É tanto assunto, opinião, coisa bonita que se vê, que não dá nem tempo de compilar os sentimentos e entender, antes que vire mais um clichê. Tanta criatividade, montagem, fuleragem que se vê por aqui, que eu ainda não consegui sair do primeiro paragrafo com algo consistente pra dizer.


Pode ser que tenha virado um balaio de idéias, um cachepozinho observador do mundo, algo assim que veja além de mim. Algo que não saia do papel, algo que permaneça nulo, intacto, inatingível. 
Como a ideia que surge no meio de um sonho, e vai embora, silenciosa enquanto se tenta desesperadamente fazer alguma associação que te lembre daquilo em algum momento.
E eu continuo buscando um motivo, que justifique toda essa série de linhas, algo bonito, grandioso..ou simples e singelo como a flor que está a desbotar na janela aqui do quarto..
Mas eu permaneço reticente...
Tento acompanhar a música que toca, e criar algo do tamanho exato de uma canção..
um texto de 3 minutos, uns segundos pra faltar..
escrever o silêncio, não é o mesmo que silenciar..

e não consigo..
sigo sem proposito, sem motivo, sem objetivo..

paro nessa linha, pra reler o que não sei..
e encontro alegria
talvez na arte, na poesia ou na música que permanece a tocar..

de clichê em clichê até o mundo acabar. 


Ouvindo_Music and Light_Bic Runga

sábado, 12 de janeiro de 2013

Sentir-se em casa




O que é estar em casa? É o cheiro familiar da roupa de cama? O aconchego do próprio travesseiro?
A intimidade do banheiro? É o barulho familiar do caminhão de gás passando lá fora? Os cheiros da cozinha? 

O que é estar em casa para você? 

Para mim, estar em casa e sentir o conforto da minha cama. Mesmo que em alguns dias, eu não ache ela tão confortável assim. É escolher minhas roupas no armário, é saber onde está o chá, fazer o meu café.
Estar em casa é precioso. 

Mas viajar! Ah, viajar é divino.
Pois quando a gente viaja, o mundo passa a ser nossa casa. E nos lares de outros, fazemos nossa morada. 

Digo isso pois estive recentemente em Florianópolis, visitando uma grande amiga, e mesmo sem nunca ter posto os pés na casa dela, me senti em casa. Protegida, acolhida, amada. Estava em casa, mesmo longe do meu ninho.
Parece piegas, e as vezes até é mesmo, mas gosto disso. De achar meu espaço, no espaço alheio. De me sentir a vontade, de poder brincar com a minha percepção do que é meu e o que é do outro. Desapegar da rotina e experimentar um pedacinho de vida em outro lugar.
Mas existem lugares, que ao contrário da casa da minha amiga, não nos fazem sentir acolhidos. Pelo contrário. Permanece a sensação de desabrigo, mesmo que embaixo do teto, sentado no sofá. Aquele despertencer incomodo e que também faz parte de viajar. É quase como uma sensação de estrada constante, como se quiséssemos sair dali logo pra outro lugar, pois falta o que ver, sentir, olhar. 

Gosto muito de viajar, e gosto muito da estrada, aliás, gosto do caminho. Avião, ônibus, carro..pouco importa. A mudança de paisagens, as pessoas, os sotaques, os costumes, os hábitos. Viajar é observar o outro e a si mesmo, de ângulos muito peculiares. 
Quando partimos do nosso lugar seguro, estamos nos sujeitando as coisas como elas realmente são. E que nada tem de certas, perfeitas.
Elas só são diferentes de nós, do caminho que fazemos todos os dias para o trabalho, dos restaurantes que conhecemos, dos preconceitos que temos. Quando viajamos, viramos nossas próprias casas, abertas para a rua chamada Vida, a espreita da sorte que nos valha e dos santos que nos protejam até a volta.  


Ouvindo_Vida Real_Engenheiros do Hawaii




sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Tenho pressa





Tenho tanta pressa de que as coisas ocorram.
De que tudo dê certo, que dessa vez eu acerte.
Tenho pressa, pois algo além de mim urge, chama..
Implora que aconteça.

Tantos outros, como eu, vivem a vida, a caber-se no seu tempo e no seu espaço. Mas não eu.
Eu tenho pressa de que as coisas andem, mesmo sabendo que as vezes, elas andam ao contrário. Mesmo sabendo que de tanto ter pressa, já me atrasei. Mesmo sabendo que a paciência é prece para a perfeição. 

E de tanta coisa que corre e que pulsa por aí, tenho pressa de tudo que é bom.Tenho pressa de realização, de felicidade. Tenho pressa para receber aquele convite inesperado, pra viagem que não chega, para o fim de noite acompanhada..

Mas a pressa..ela castiga. Ela atormenta e cobra o seu preço.
Tive tanta pressa em buscar minha felicidade, que sai atropelando tudo, pra mudar,
Tive pressa em escolher, e muitas vezes, escolhi errado. Tive pressa em amar, e desandou.
Tive pressa em ser o que eu gostaria, e não fui nada. 

Hoje, me divido na ansiedade de acontecer, e na paciência de saber que tudo ocorre a contento.
Mesmo querendo, torcendo, vibrando para que tudo se transforme depressa, percebo o silencioso transformar da natureza, e assim me calo. 
Percebo o nascimento de um bebê, e sua espera resiliente e diante disso, me resigno.

Acho que no fim das contas, tenho pressa mesmo é de ser paciente.


Ouvindo_Sol das Lavadeiras_Zé Manoel

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A minha cidade





Uberlândia, é o nome da cidade.
Uma cidadela no interior de Minas, com aquele jeitão de cidade grande, mas com jeitinho de gente de cidade pequena. Em Uberlândia, tudo é diferente do que se conhece em outros lugares.
Mas como a maioria das cidades, apresenta seu lado bom e seu lado ruim.

Saí de Uberlândia, não por odiar a cidade, embora eu achasse as vezes que era por isso, mas porque eu nutria nada secretamente uma paixão visceral pela cidade de São Paulo. E depois de quase 08 anos fora da minha terra natal, a saudade agora, aperta um cadiquinho, toda vez que vou lá.
Talvez seja porque algumas coisas, e foram muitas, floresceram na cidade. Ruas que cresceram, movimento que aumentou, muita coisa nova, mais lugares integrados, mais novidades, mais locais de cultura e arte, enfim..Uberlândia cresceu e amadureceu.

As pessoas também se modificaram..
Minha família mudou, meus amigos mudaram, e talvez por eu não me sentir tão parte deste lugar mais, é que ele me encante tanto.

Me sinto uma estranha em Uberlândia.
E isso, é positivo.
Nunca gostei daquela coisa de ser reconhecida nos lugares, de saber quem era quem, ou comentar sobre as pessoas "mais importantes" da sociedade porque enfim, eu não dava a mínima. Só queria viver minha vida tranquila, podendo ser quem eu era, num lugar onde quase todo mundo queria permanecer igual.

Mas, e as coisas boas?
Poxa, Uberlândia tem uma qualidade de vida excelente. Dá pra ir almoçar em casa todo dia, se quiser.
Dá pra ir caminhar no parque todo dia, sem pegar duas horas de trânsito. Dá pra fazer academia, comer bem, sair com os amigos sem ter que deixar todo o salário do mês.
Poxa, dá até pra emagrecer em Uberlândia.

Afinal, toda vez que eu venho aqui tá todo mundo tão bem, que eu sempre acho que a culpa de eu estar umas toneladas acima do peso, é de São Paulo.
E falando em comer..nunca vi um lugar tão barato pra se comer bem. Tá certo que Sampa tem diversas opções e coisa e tal, mas de que adianta, se eu você não consegue pagar nem a metade.

Uberlândia, tem uma beleza singela. O sol da manhã, com o céu azul no verão e sem a poluição no meio, dão a sensação que você está respirando de verdade. E mesmo que você transpire muito por conta do calor, vale a pena.
Vale a pena caminhar no centro e encontrar o bar que costumava frequentar com o pessoal da faculdade, vale a pena andar pela Av. Rondon Pacheco e perceber que muita coisa mudou e muita coisa permaneceu. Vale a pena encontrar com as pessoas tão simples da cidade, principalmente nos bairros mais afastados do centro, onde algumas coisas permanecem quase primitivas, e pra mim, quase irreais.

Uberlândia, abre-se diante dos meus olhos de maneira diferente, admito.
Sem todo aquele glamour de São Paulo...sem toda a tragédia que eu imaginava pensar, se um dia voltasse pra lá.

Minha cidade é outra.
Em transformação natural, em amadurecimento lento, em desabrochar tardio.
Uberlândia floresce pra mim, que ainda não encontrei em Sampa, minha grande realização.
E abre-se em possibilidades..

Talvez esse seja um devaneio tolo, banal, e eu esteja delirando diante das minhas frustrações cotidianas, mas vá lá. Vale a pena sonhar.

Afinal, todo lugar é lugar pra quem nunca teve um sonho feliz de cidade!


Ouvindo_Soma_The Strokes

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

primeiríssima permissão



Imagino que não deva ser somente eu que me perco as vezes nas madrugadas da vida, com a cabeça cheia de idéias, o coração acelerado e sem conseguir dormir. Acho que isso assombra até o mais pacato dos seres humanos, mesmo que vez ou outra.

Mas aí, eu fiquei ali apreciando o silêncio daquele momento. Fiquei deixando minha mente navegar naquela escuridão, deixando os sentimentos virem a tona, quase que numa terapia intensa comigo mesma. Naveguei por entre medos, sonhos, desejos, realidades.
Fiquei ali, olhando para o led dos receptores da tv, a luzinha piscando do celular, e ouvindo os sons da casa.

Contemplava a existência, por assim dizer.
Numa noite de primeiro de janeiro com muitas questões a serem respondidas, e quase nenhuma resposta assertiva em minha mente, deixei-me conduzir por aquele emaranhado de coisas que circundavam minha cabeça.
Me emocionei, me critiquei, me perdoei, me entendi.

Rezei. Pois é preciso ter fé que tudo irá melhorar, que as coisas vão mudar, que esse despermanecer intenso que me consome, pode sim me mover pra algum lugar. E aí, desejei que todo mundo que se preste, devia  conversar mais consigo, ouvir mais a própria cachola, entender mais o que o corpo está dizendo. Que devia ser obrigatório, ou vital, sentar só por alguns instantes e deixar que a cabeça fale, que o coração ensine, que o mundo faça silêncio para que se possa ouvir. Mesmo que diante de tanto barulho e de tanta informação que circula, que estejamos prontos para calar.

E nesse desconectar madrugal, me vi ali sentada na cama, como nunca antes. Sem medos do escuro, sem medos do que eu não via, sem medo de sentir, de bagunçar as idéias, sem medo de não fazer sentido.


Na madrugada do primeiro dia, pela primeira vez, me permiti.



Ouvindo_Trying to Pull Myself Away_Trilha de "Once"

2013



Onde andam os meus sonhos? Meus momentos felizes? Minha coragem de ser quem eu sou?
Onde anda a minha cara lavada, meus rabiscos diários, minha personalidade mutante?
Onde andei eu, todo esse tempo?

Andei caminhos vacilantes, perdida em sonhos torturantes
imagens do que não vivi


andei por entre meus medos e mais ainda por meus desejos de realidade que não existiram mais em mim

mais importante do que tudo isso, são as coisas diárias,
as pequenezas, as corajosas gentilezas de parar de me punir

que o ano que se inicia seja de coragem e transformação
que seja de bençãos
de união
que seja pra eu realmente
me ouvir.


Ouvindo_barulho do ar condicionado